A digitalização foi, para tantos e tantos negócios, um verdadeiro ‘salva-vidas’ contra a atual pandemia. Permitiu a muitas empresas continuar a trabalhar e manter a capacidade de chegar aos seus clientes.
Mesmo em áreas de atividade onde o passo da digitalização não parecia tão evidente, esse ajuste foi possível. As empresas, e também os clientes, adaptaram-se fazendo com que, em poucos meses, as ferramentas digitais se tornassem familiares para muita gente.
Com todo este contexto, houve uma aceleração do processo de digitalização da economia, o que significa, ao mesmo tempo, que as empresas passam a estar mais pressionadas a modernizar-se, para que não fiquem para trás e em posição desfavorável face à concorrência.
A digitalização no pós-pandemia
À medida que damos os primeiros passos rumo à normalização do dia-a-dia, aproximamo-nos da verdadeira ‘prova dos nove’. O que vão as empresas fazer com a transformação digital acelerada pela pandemia? Encará-la como uma ferramenta de resistência temporária ou fazer dela o início de um novo caminho de crescimento e avanço?
Acredita-se que, em muitos setores de atividade, vai ser a segunda hipótese a escolhida. Por várias razões. À medida que os recursos digitais foram trazendo soluções para sobreviver à pandemia e manter vivos os seus negócios, as empresas descobriram outros benefícios para os quais muitas não estariam ainda despertas.
Perceberam que podem conseguir importantes reduções de custos, seja de funcionamento, seja de distribuição. Estão a tomar consciência de que este passo as pode ajudar a ser mais competitivas, eficientes e inovadoras. E que há negócios que, sem o digital, não chegariam a tantas pessoas ou a mercados que até agora lhes estavam vedados.
Em determinados setores, podem agora fazer o arranque de um projeto com menor risco se começarem pelo digital, antes de ser dado o passo, mais oneroso, da presença física para distribuir produtos ou serviços.
Um passo necessário, mas nem sempre fácil
Assinalar as inúmeras vantagens do digital não significa ignorar os obstáculos possíveis ou o quão sinuoso pode ser este caminho.
Um dos grandes desafios está relacionado com o investimento financeiro que é necessário para fazer esta transição, que dependerá da dimensão e necessidades de cada empresa. Se pensarmos que o tecido empresarial português é, na sua vasta maioria, composto por pequenas e médias empresas, é fácil depreender que, para muitas, não é simples fazer os investimentos necessários. A incerteza dos tempos que vivemos também resulta num imperativo absoluto de ponderação de riscos, flexibilidade e capacidade de adaptação. Numa empresa de menor dimensão, estes cuidados podem fazer a diferença entre tirar partido da mudança para o digital ou comprometer toda a atividade em resultado de um investimento desajustado e imprudente.
A isto acresce o facto de ainda ser elevada a iliteracia digital em muitas empresas, nomeadamente ao nível da gestão. O conhecimento digital é, para muitos, diminuto, o que faz com que não seja evidente como e por onde começar.
Por outro lado, a própria mão-de-obra do tecido empresarial português ainda não tem a formação necessária e será preciso, também a esse nível, fazer investimentos de upskilling. De resto, Portugal está longe de ser caso único. Por todo o mundo, a mão-de-obra terá de passar por um processo intenso de reforço de competências digitais e de adaptação à mudança de paradigma vivida e a que muitos chamam de quarta revolução industrial (‘Indústria 4.0’).
Os apoios que aí vêm
Entre as grandes empresas e as PME há, portanto, uma clivagem grande em termos da facilidade e meios para “abraçar” o digital. Para colmatar esta desvantagem competitiva, está previsto que uma fatia relevante do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) seja destinada a apoiar e permitir acelerar a transformação digital das empresas.
Cerca de 650 milhões de euros terão como destino a capacitação digital das empresas, seja através da modernização de processos e modelos de gestão, seja pela atualização e reestruturação de modelos de negócios, pela formação de quadros ou com a digitalização de procedimentos internos e com o exterior.
Não deverá faltar muito até que as verbas comecem a chegar. A aprovação pela Comissão Europeia dos primeiros PRR, incluindo o de Portugal, está para breve. Dado esse passo, o dinheiro começará, dentro de algumas semanas, a ser distribuído.
Vencer os desafios da transformação digital
Reconhecidas que estão estas dificuldades, tal não significa que não seja possível vencer o desafio. Para isso, há passos fundamentais que podem fazer toda a diferença:
De pouco serve estar a fazer grandes investimentos na digitalização da sua empresa se, em simultâneo, não for feio um trabalho de formação das estruturas de pessoal. Só assim o negócio colherá os frutos do investimento feito em equipamentos, software e demais ferramentas digitais.
Nesse caminho de preparação dos trabalhadores para a mudança, é importante promover também a tomada de consciência nos mesmos da importância de adotar o digital. Se este ‘mindset’ não for interiorizado na cultura da empresa, esta adaptação pode não correr como pretendido.
Este é um cuidado que se aplica a muitos dos investimentos de qualquer empresa: saber quando será possível atingir o ‘break-even’. Aqui não é exceção. Entre a altura em que se fazem os investimentos para a digitalização da empresa e o momento em que tal se efetiva e se transforma em retorno e benefícios para o negócio pode ir uma longa distância. Tudo dependerá, também, da complexidade das alterações a fazer. Isto significa que a gestão terá de assegurar que a empresa tem estrutura para aguentar esse compasso de espera.
Quer seja através dos fundos e programas já existentes, quer seja com recurso ao dinheiro que vai chegar em breve com a ‘bazuca’ europeia, é preciso que os gestores conheçam bem o que existe para não deixar escapar oportunidades de apoio; todas as ajudas são bem-vindas.
Sem um bom parceiro tecnológico nada feito. O parceiro adequado irá apoiar na escolha das soluções tecnológicas mais ajustadas ao plano de negócios e ao projeto da empresa, saber apontar o que serve aos clientes e aos mercados onde a atividade se realiza e assessorar na resolução de problemas.
Mais do que querer ser ‘expert’ em todas as áreas, escolher os parceiros certos é uma das decisões mais importantes e determinantes que pode tomar para o sucesso de um negócio.